quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Nós costumavamos tentar agüentar a fome, mas não parávamos de pensar em comida e em como conseguir pôr as mãos em algo comestível. Durante o recreio da escola, eu voltava escondida para a sala, procurando alguma coisa na lancheira de outra criança, algo que não seria notado - um pacote de biscoito, uma mação -, e engolia tão rápido que quase não dava para sentir o gosto. Se eu estivesse brincando no quintal de um amigo, eu pedia para usar o banheiro, e, se não tivesse ninguém na cozinha, eu pegava alguma coisa na geladeira ou no armário, e levava para o banheiro, e comia lá, sempre fazendo questão de dar a descarga antes de sair.
O Brian também se virava como podia. Um dia, dei com ele vomitando atrás da nossa casa. Eu quis saber como ele conseguia vomitar daquela maneira, se nós não comíamos há dias. Ele me disse que tinha entrado escondido na casa de um vizinho e roubado um pote enorme de picles. O vizinho o pegou em flagrante, mas, em vez de o denunciar á polícia, ele o fez comer o pote todo, como castigo.
Eu tive que jurar que não ia contar para o papai.

(O Castelo de Vidro - Jeannette Walls)